Epistemologia
social
Leonarda carvalho de Macedo
"Aquele que não acredita na educabilidade dos seus alunos faria melhor
mudar de ofício
(Meirieu, 2004)."
Para está na
Educação é necessário acreditar na causa, aceitar que nossas ações estão
sujeitas a erros e ainda assim tentar. Perceber cada ser como único,
respeitá-lo enquanto cidadão em formação, mais que isso, aceitar que lições
podem e devem ser recíprocas. Tentar o novo, o velho, criar situações, nos
enxergarmos como inacabados, tal qual nossos alunos.
A Educação
" do 1º a 3º mundo" , encontra
obstáculos semelhantes a serem ultrapassados, o
que difere o sucesso do insucesso é a persistência, o perfil do Educador.
Teorias e
práticas se tornam ações, não necessariamente nessa ordem.
A frase de Meirieu,
citada acima, afirma que todos somos educáveis, desde que nos dada
oportunidades para troca de experiências e exposição de ideias. Nossas crianças
tem o cognitivo bastante fértil, bem incentivadas, desenvolvem-se e
surpreendem-nos.
Muitos são
os discursos , debates, estudos, embora muito se tenha descoberto na Educação,
muito pouco ainda é feito pelos
educadores, para os educandos em sala de aula e para os educadores pelo poder
público.
É fato que o
legado teórico , deixado por muitos e atualmente criado por outros, está sempre
a somar, embora não possamos nos esquecer que além do nosso discente, temos autonomia para criar e recriar
práticas e assim registrar os feitos,
nascendo então mais teorias.
Salas de
aulas recheadas de mundos a serem desbravados, literalmente descobertos
situam-se em várias das nossas Escolas. Crianças sedentas de curiosidade,
desejosas de alguém que lhes dê a devida
atenção, o devido respeito, anseando por alguém que lhes escutem, que atendam
os seus clamores. Essas crianças "gritam quietas" por mudanças, por
diversidade, criatividade em sala de aula. Querem aprender e sabem como, mas
precisam ser conduzidas para poder conduzirem!
Assim também
são muitos professores, alguns, com teorias obsoletas insistem em não aceitar o novo, a evolução dos tempos e
pensamentos, os que guardam desde sempre o mesmo caderninho de anotações e
protestam sempre a cada início de ano letivo pela mesma série ( ou ano ) para
não ter que fazer um novo plano de aula,
novas atividades, os que reclamam da monotonia e não saem dela. Outros,
"detém" o saber, os que além de não acatarem ou experimentarem ideias
não criam as suas próprias e insistem em reclamar da turma á coordenação.
Ensinar vai
além de rotineiramente ir para uma
escola e dar aulas. É
incitar curiosidades, vontades, é
por exemplo, antes de iniciar uma aula de geografia, sobre a litosfera, pedir
que as crianças tragam pedras ou pedrinhas das que vimos, principalmente no
interior, é iniciar uma aula sobre fração com uma melancia e partilha-la com
todos, e por aí vai.
Sobre os
vários mundos citados acima, saliento que todos valem a pena. A competência do
docente expressa-se quando alcança-se o sucesso em turmas heterogêneas,
obviamente que é imprescindível
dedicação. Assim como a curiosidade que devemos despertar nas crianças, temos
também de tê-la. Enxergar cada um como único e válido nas suas especificidades.
Professores devem ter além de habilidades, precisam de sensibilidade.
É plural os
motivos que levam nossos alunos ao sucesso ou insucesso. Ao chegar na Escola,
nos primeiros anos, já se traz de casa e do "mundo" em que vivem uma
educação, a que chamamos de informal, a que estará entranhada, seja boa ou
"ruim". Para a segunda, é possível intervenção positiva, para a
primeira todo aperfeiçoamento é possível e válido.
Aprendemos
com nossas vivências, estamos a todo tempo experimentando, investigando ou
recriando algo dito/feito por outrem. Teses são erguidas e derrubadas. E é isso
que nos move, a curiosidade!
É esta
curiosidade que temos de ter pelos nossos alunos, adotar cada caso como sucesso
possível.
"O professor é militante da justiça
social. É investigador da sua sala de aula" (Morrow e Torres, 1997).
Esses
princípios exprimem a pertinência da associação professor/investigador mas por
outro lado mostram dois planos distintos:
- Procurar
na informação teórica apoio para os problemas de aprendizagem dos alunos;
- Procurar
constatar, pela investigação, de que modo as tentativas inovadoras resolvem os
problemas encontrados. ( Duarte, 2008 )
Assim, uma
coisa é ação pedagógica, outra coisa é a investigação que se faz sobre ela (
mesmo que o professor e o investigador sejam a mesma pessoa ) porque a
objetivação proporcionada pela teoria e a alteridade dos pares permitem
distanciar os dois planos, o da ação e o
da pesquisa.
Estudos e
pesquisas nos servem de base e orientação para aperfeiçoamento da nossa
prática, todavia, não é suficiente mudar a metodologia sem investigar também
as necessidades dos alunos, tem de haver complementação entre ambas (ação e
investigação / investigação e ação).
O aluno como
ser ativo pode ser consultado sobre suas
curiosidades e isto pode ser usado a favor da prática docente, mais que isso,
tal ação tornará positivo o feedback.
Concluamos
que o registro dos diálogos com os próprios alunos e a análise das suas
formulações e ensaios à luz de teorias orientadas poderão dar um importante
contributo a uma ação pedagógica, que se pretende transformadora da escola e
sociedade. ( Duarte, 2008 )
Toda aula é possível ser problematizada, ou seja,
despertar antes do conteúdo propriamente dito a curiosidade pelos objetos,
fenômenos, causas, etc. Percebidos pelos alunos
fora dos muros da Escola. Registros são de suma importância tanto para constatação
do aluno sobre sua evolução, bem como sucesso da prática do professor. O
portfólio é uma boa sugestão para tais registros.
A
heterogeneidade na sala de aula pode ser usada, inclusive como ferramenta para
o bom professor, podendo este, formar um grupo
de auxílio, onde os mais conhecedores sobre determinado conteúdo
ajudarão os que manifestam dificuldades, sendo os membros, revezados de acordo
com suas habilidades.
No respeito pela ordem dos conceitos contida nos
programas, nós, professores, tendemos a naturalmente seguir uma marcha da
lecionação condizente com essa ordem. Tendemos ainda a esperar orientações
pormenorizadas das direções-gerais e regionais ou outras instituições
tutelares. Tendemos, em suma, a fazer reprodução de conhecimentos. É que, por
mais teorias com que tenhamos contatado no nosso currículo, a nossa formação
docente advém sobretudo das imagens dos professores que tivemos, imagens
associadas a um modelo uniforme,
ligado a um tempo em que a escola era seletiva e os alunos tinham um nível
cultural relativamente homogêneo, o que permitia transmitir o saber a esses alunos “como se fossem um só”. (Duarte, livro em preparação)
Este modelo de homogeneidade , embora
ultrapassado, ainda vigora para alguns professores. É natural que guardemos
conosco boas (ou más) lembranças dos nossos mestres, afinal, todos nos deixam
recordações, sejam elas boas ou menos boas. Infelizmente, alguns profissionais
da Educação ao invés de proporcionar o conhecimento, dificultam-no,
provavelmente tenham a falsa sensação de soberania sobre os aprendizes e perdem
a oportunidade tanto de ensinar quanto de aprender com os nosso meninos e
meninas.
Todos nós trazemos lembranças desagradáveis da escola, seja ela
no Ensino Fundamental ou Médio. Ainda que o fato não tenha se dado conosco,
presenciamos de algum modo, ao logo da vida Escolar um coleguinha que
tenha passado por algum constrangimento causado pelo professor "carrasco".
O que quero dizer é que
não passamos neutros pela vida das pessoas, nem o professor, nem o aluno. O que
nos torna ainda mais responsáveis no
nosso ofício, considerando que
somos nós, os professores, que temos que
nos preocupar com legado deixados para as crianças das nossas escolas.
Paulo Freire diz:
Paulo Freire, 1996
Existe
uma gama de coisas interessantes a serem exploradas fora da escola e que podem
ser trazidas para dentro dela, ou levar o nosso sujeito ao encontro de tais
coisas. Embora as Escolas estejam mudadas e não haja tantos perfis parecidos
entre os alunos, temos mais Escolas, (embora algumas bastantes sucateadas) e
recebemos mais investimentos a cada ano. Não estou justificando o fracasso da Escola pela prática docente, porém afirmo
que muitos de nós podemos fazem muito além do que realmente fazemos.
É
comum na Escola presenciarmos aulas de boa qualidade, onde o professor
naturalmente manifesta sua vocação para o magistério. Demonstra humanidade,
preocupação, interesse pelos alunos. As Escolas estão compostas, também por
professores que atuam dentro e fora da Unidade de Ensino, que sentem a ausência
do aluno, percebem tristeza ou alegria demasiadas, que se dispõem a visitar a
família da criança, caso seja necessário. Em contrapartida, temos os sofistas
de discursos exemplar, que tudo enxergam, por exemplo, a Escola deteriorada,
salas cheias, falta de material de consumo, má qualidade da merenda, falhas da
gestão, etc. Mas não são sensíveis ao principal, a necessidade do aluno que já
vem de uma sociedade excludente, que por vezes vai a Escola pelo forçar da mãe
ou para não ver por quatro horas ( mais ou menos ) seus pais bêbados /brigando
ou saciar a fome ou tantos outros motivos que não seja aprender, porque alguém não lhe despertou ainda o
prazer para tal.
Com
isto, não estou eximindo a responsabilidade do poder público, pelo contrário,
mas temos de ser no mínimo éticos com a causa que abraçamos, neste caso a
Educação.
Enquanto
escrevia estas linhas, li em algum lugar que "Educar dá trabalho, e se
não dá, não é educação." ( desconheço autoria)
Compreendi
o "trabalho" como atividades constantes, pesquisas, diferenciação de
prática para atender todas as especificidades da turma, e obviamente, a busca
pelo reconhecimento e valorização da prática docente, investimento na profissão
no tangente a formações, workshop,investimento
em tecnologias facilitadoras da aprendizagem, manutenção dos prédios escolares,
etc. Mas também e, principalmente a
consciência de que uma luta não pode interferir no resultado da outra. Não
podemos deixar de fazer pelos nossos alunos o que sabemos e podemos fazer
porque o governo não faz a sua parte ou tarda em fazê-la. Isso não denotaria um
ato de bravura, como os muitos atos
dignos de tantos professores existentes mundo afora que não desistem dos seus alunos, que sentem
prazer em educar, mesmo diante de infinitas dificuldades e obstáculos.
" Não se pode falar em educação sem
amor" (Freire). Frase distorcida por muitos, mas que expressa o que
escrevi acima. Não é só trabalho,
ocupação ou salário, mas buscar fazer o que se gosta de fazer! Sentir-se
desafiado por situações a serem desvendadas, o prazer em fazer parte da
história de uma criança que até então não manifestava nenhum estímulo para
quaisquer circunstância . Trata-se de trabalhar com dedicação, amor ao que se
faz. Plantar expectativas de vida nos futuros adultos da nossa sociedade. É
comum em reuniões de pais, (no município que moro e trabalho) ouvir depoimentos
do tipo " não estudei porque meu pai
queria que eu trabalhasse"; "não estudei porque engravidei logo e
tive de casar, meu marido não me deixou ir para escola"; " não
estudei porque era muito difícil naquele tempo, só quem tinha dinheiro é que ia
para escola." Atualmente
relatos assim se tornaram bem mais raros. A Escola está para todos, no campo,
na cidade, ribeirinhos. O nosso desafio agora é
manter nosso aluno assíduo na
Escola. Concorremos com uma gama de coisas interessantes, o que com
certeza, aumenta o nosso mérito em despertar no aluno a vontade de está numa
sala por vezes sucateada, onde a tecnologia disponível para nós seja giz, livro
didático e brinquedos de material reciclado, Lá fora ? Tecnologia de ponta !
Nenhum comentário:
Postar um comentário